O telefone não toca há dias. Mas as informações não cessam. Silenciado, ele vira apenas um registro inócuo de falsas mensagens, falsas conexões. Varias, repetidas, anunciam: há distanciando. Solitária, penso na solidão da escrita. Quatro anos construindo uma teoria feita de palavras duras. A defesa se aproximava para reafirmar a solidão. Ninguém estaria presente. O contentamento passou por minha garganta como arame farpado. Cortou a alma. O abraço era um fantasma que assombrava à noite. Trazia o choro fácil. Não era tristeza. Era falta. Segui.
Chegou o dia. A defesa da indefesa. E tudo ocorreu como o esperado. Sem ressalvas. E sem abraços. Mas havia duas almas irmãs por perto, conectadas, parcerias distintas da vida: um marido e uma filha. Vi suficiência naquilo. Estava tudo bem. Sem festas, sem sair para jantar, sem muita comemoração, o título chega. O simples circulou o título. Mas nada era tão normal. Sentada ao sofá da sala, um convite me tira do isolamento: “Vamos tomar um café?”. O corriqueiro sentido para nossa vida a dois. Sentei à bancada da cozinha esperando o café. A máquina inicia seu processo. O meu havia terminado. O barulho e o cheiro marcavam o momento. Memórias afetiva trazidas pelo olfato. Sorrio por dentro. Ele me entrega a xícara. No pires, uma poesia de Florbela Espanca. Acho que era um sinal. Sorrio de novo. Espero ele pegar seu café. Nada. Eu, assustada, o pergunto: “Não vai beber?”. Sem delongas, ele me responde: “Era o último!”. Minutos e minutos de risada solta. Só quem gosta do café expresso sabe o valor da última cápsula. Ganhei meu segundo título no dia. Estava, realmente, tudo bem. E eu estava feliz.