As figuras da cidade

Os textos deste espaço falam, primeiramente, através das imagens. Eles surgem de capturas de figuras que fazem parte da cena da cidade. Figuras que simplesmente estão lá, esperando para serem capturadas. E foram. Agora estão aqui, retratadas em pequenos textos que dizem do meu olhar sobre elas. Imersas em mim, expresso em narrativas meu processo subjetivo de apreensão de cada (grande) figura. Re-criando-as, eu me re-crio.

O tocador de saxofone (Danielle T. T. Monteiro)

O sinal se fecha e ele, imediatamente, adentra a cena.
A música se espalha no meio da Avenida Brasil.
O sábado de manhã torna-se poesia.
Música de infância, memória afetiva.
Feliz daquele que pôde sentir.
Felizardos os que o enxergaram através do vidro sujo do carro.
A poesia está em toda parte.
Há música pelo caminho.

Este é Sr. Alberto Lomen, um fotografo de Belo Horizonte. Eu caminhava pelas ruas da Savassi quando escuto alguém que me pergunta: “Você gosta de fotos?”. Respondo que sim e, imediatamente, começa minha viagem inesperada em uma vida de muitas histórias. Foram várias e várias fotos, muitas e muitas histórias. Foi bom encontrar essa figura da cidade. Foi bom ver as diversas possibilidades poéticas que a vida nos oferece, basta termos olhos para vermos! Há poesia em toda parte. Depois de vários e vários “causos”, agradeço ao Sr. Alberto e à vida pela possibilidade desse encontro.

O tocador de acordeon (Danielle T. T. Monteiro)

A musica estava sempre presente.
O cachorro também.
Eram presenças.
Presentes.
Poesia em notas afinadas,
Desafinavam o caminhar.
Inundavam o olhar.
Sons que se espalhavam pelas ruas da cidade.
Músico, cachorro e som faziam parte da cena.
Figuras que se faziam na cidade.
Figuras da cidade.


O Senhor sempre estava lá, a caminhar pela praça Oito de Maio. Passava em frente a Igreja de Santa Cruz todos os dias. A bengala se fazia presente, o olhar sério também. Era uma figura que fazia parte da cena da cidade.

O vendedor de balões (Cidade de Salamanca, algum dia de dezembro de 2018)

Ele era um vendedor de balões.
Fazia contraste no marrom da cidade de Salamanca.
Era visto.
Não via.
Preso numa tela.
Se fez tela.
Estava na cidade.
Era cidade.
O contraste lhe fez figura.
Singularidade em cores.
Balões que coloriam o marrom daquela cidade.
Balões? Figuram.
Homem? Era um vendedor de balões.
Uma figura daquela cidade.