Eis que, de repente, eu acordo.
Eu posso ver.
Era como se eu acabasse de despertar de um sono profundo, intenso, prolongado.
Talvez fosse isso mesmo.
Durante muito tempo eu vivi assim.
Eu me senti feliz em estar acordada.
Os sentimentos me afogavam, ao mesmo tempo em que serviam de boias.
Eles salvavam a minha existência.
Dialética do despertar de uma planta.
Começo a perceber as sensações.
Cada sentido se misturava em mim.
Eram cores, odores, sabores… a textura e a tecitura de minhas fibras.
Folhas maleáveis.
Dançavam com o vento frio que, de certa forma, me acariciava.
O dançar direcionava meu olhar.
Via o que via por ele, através dele.
Eu me vi pequena, frágil.
Mas, ao mesmo tempo, protegida.
Haviam outras na mesma situação.
Eu era apenas uma parte do todo.
Diante meus olhos, me deparo com um mundo estranho.
Eram pedras formatadas, água sem terra, terra sem água, luz sem fogo, bicho sem toca, homem com roupa.
Era, de alguma forma, a natureza transformada, milimetricamente construída.
Senti medo, me perdi no medo, voltei do medo.
Eu estava lá, nem tão estática, o vento me conduzia.
Eu dancei com ele.
Senti a transformação que desconstruía meu olhar.
Construção subjetiva, objetivada na diferença: a pedra não era mais pedra.
Naquele momento me vi força, natureza.
Vi que era resistência.
Eu estava viva.
Havia tempo.
Senti felicidade, me perdi no riso, voltei do riso.
Eram os pequenos sabores que me inundavam.
Dessabores revestidos de transformação.
Imergi nessa sensação.
Esqueci completamente o medo.
A natureza se transformara: a pedra não era mais pedra.
Mas eu estava lá, fazia parte da cena.
Eu era natureza.
Uma natureza transformada.
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